29/03/09

ADEUS


Olá minha “Menina”:
Chegou a hora do “ADEUS” final…
Foi um fim de semana de um enorme desgaste físico e principalmente emocional.
Há umas semanas prometi-te escrever outra carta… mas, eu previa este triste desfecho e fui perdendo a coragem; tomei outra decisão: não te deixar partir sozinha, sem ninguém por perto.
Então, comecei a rezar com confiança, pedindo a Deus que, na hora da tua partida eu estivesse por perto e assim aconteceu. Rezei colocando acima de tudo a vontade de Deus. Hoje posso dizer:
“Pai eu te dou graças porque me ouviste” (Jo 11,41).

Na noite de 5ª para 6ª feira, aconteceu algo estranho, quando me fui deitar, na hora das minhas orações, fui invadida por uma tristeza inexplicável, chorei convulsivamente durante alguns minutos e… senti que se aproximava o fim de algo que era muito doloroso para mim, juro que senti que ias partir.
Assim como um aviso por telepatia.
Na sexta-feira decidi que, depois de sair do trabalho, seguia directamente para o hospital e estaria junto a ti e foi isso que fiz.
Assim que entrei na sala dos cuidados intensivos e me aproximei de ti, tive um arrepio, a tua cor não enganava.
Aproximei-me e estavas meia adormecida; comecei a fazer-te festinhas e a conversar contigo e, de repente, tu abriste muito os olhos e fixaste-me, com muita atenção, e eu disse-te:
Meu doce, tu abriste os olhos para a Tia!!!
Tu estás a ouvir e sentir a Tia, aqui junto a ti?
Que coisa mais doce, esses olhos grandes, lindos, abertos a olhar para mim.
Que sorte eu tenho, a tua mãe queixa-se que há alguns dias que não abres os olhos e, agora, estás a olhar para mim, assim como, quem me quer dizer alguma coisa! Obrigado minha querida.
Tu continuavas de olhos bem abertos até que aproximou-se uma enfermeira e pediu que eu passasse para o outro lado pois ela queria ver se tinhas a comida no estômago ou não, através do tubo naso-gástrico.
Ali fiquei a ver o que acontecia e infelizmente saiu tudo que te tinha sido dado, o teu estômago há 2 dias que rejeitava toda a alimentação.
Presenciei actos de enfermagem que me foram explicados e que guardarei comigo, nas minhas memórias. Entretanto, alguém se aproximou de mim e disse:
Está lá fora o namorado, ele quer entrar!!!
Eu, com a voz sumida, respondi: Está bem, eu já vou sair.
Mas, algo de extrema sensibilidade aconteceu naquele momento.
A Enfermeira que estava do outro lado da cama disse:
Não, a Tia não sai, fica aqui junto à Tânia.
Deus iluminou aquela pessoa, que percebeu que era ali o meu lugar e, eu fiquei espantada com a reacção inesperada, pois sei quais são as normas, mas, naquele momento não havia normas, havia sim, um ser humano que agiu segundo aquilo que seria o melhor para a Tânia e para mim.
Louvo aquela enfermeira, que Deus a abençoe por ser uma pessoa muito humana.
Então, ela responsabilizou-se por deixar entrar o namorado e ficamos um de cada lado da cama. As lágrimas caiam cada vez com mais força, já não me conseguia controlar, foi a 1ª vez desde o início de todas as visitas que lhe fiz, que não me importei com as lágrimas, era a minha dor na hora da despedida. O choro tornou-se convulsivo, um nó apertava a minha garganta, o meu peito parecia querer rebentar...não podem imaginar.
O Cláudio agarrou-se a mim e fez-me uma festa a consolar-me.
Entretanto balbuciou: Não havia necessidade de chegar a este estado.
Depois concluiu: Ela não passa desta noite.
Eu acenei com a cabeça e confirmei as suas suspeitas.
Ao fim de uns minutos, o namorado perguntou-me:
Ainda fica aqui? eu disse-lhe: Fico até ao fim.
Ele saiu e senti que ficava feliz por alguém continuar ao lado da Tânia.
A Enfermeira foi buscar uma cadeira e colocou junto à cama da minha princesa, disse-me: sente-se! Baixou a cama para eu poder chegar-lhe à face e dei-lhe muitos beijinhos, conversei muito com ela, contei-lhe segredos ao ouvido e ao mesmo tempo o monitor acendia as luzes, os valores baixavam, de 50 que estava quando cheguei já estava em 30.
Levantei-me e fui ver as horas: 18h 20m. O meu receio era que chegasse as 19h e eu tinha que sair. Voltei para junto dela, continuei a dar-lhe beijos, muitos e repenicados, relembrei coisas da infância dela, quando eu lhe comprava os fatos de carnaval e ela toda vaidosa desfilava vestida de sevilhana e de princesa.
O monitor continuava a piscar e os valores a baixar.
Comecei a despedida e encaminhei-a para o Céu, disse-lhe:
Vais em breve para junto de Deus, vais encontrar os teus avós, os teus amigos, o teu namorado, todos te esperam; nós ficamos sem ti, mas tu vais para melhor. Vai em Paz, minha querida. este tormento tem que acabar.
Quando o monitor acusou uma linha recta e apareceu o zero, eu continuei a dar-lhe beijos, fazer-lhe festas e a dizer-lhe muitas coisas; estava na hora de eu me retirar, ciente de que, nada mais havia a fazer. Olhei para o seu rosto que estava bastante sereno e, eu também estava de bem comigo, pois foi um momento que jamais esquecerei.
Digo-te querida Tânia: nada acontece por acaso.
Deus escolheu-me para esta missão, que cumpri da melhor forma que sei fazer, com muito amor. O mesmo amor que sempre te dei durante a tua curta vivência na terra. Olhei para o relógio, marcava 18h 40m quando saí da sala; nem sequer tinha terminado a hora da visita, 19 horas.
Hoje, foi a última vez que te vi, despedi-me de ti, sem choros, pois sabia que foi o melhor para ti e, quando fecharam a urna e levaram para dentro do crematório, a minha consciência estava de bem comigo mesma, fiz tudo o que pude, quando foi necessário, agora rezarei por ti, todos os dias, todas as vezes que sentir vontade, sei que tu sabes que eu sempre te adorei. Descansa em Paz,meu anjo.

26/03/09

A VIDA É UMA GRANDE LIÇÃO

Aprendi.... que a vida é dura mas eu sou mais que ela!!
Aprendi que...as oportunidades nunca se perdem; aquelas que eu desperdiçar... alguém as vai aproveitar.

Aprendi que...quando me importo com rancores e amarguras a Felicidade vai para outra parte.
Aprendi que...devemos sempre dar palavras boas...porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir.

Aprendi que...um sorriso é uma maneira económica de melhorar o meu aspecto.
Aprendi que: Tranquilidade, Aceitação, Justiça, Paz, Bravura, Verdade, Sensibilidade, Força são muito necessários nas nossas Vidas.



Aprendi que... não posso escolher como me sinto...mas posso sempre fazer alguma coisa.

Aprendi que...quando os meus netos seguram o meu dedo nas suas mãos têm-me presa para toda a vida

Aprendi que...todos querem viver no cimo da montanha...mas toda a Felicidade está durante a subida.

Aprendi que... temos que gozar da viagem e não apenas pensar na chegada.

Aprendi que...o melhor é dar conselhos só em duas circunstancias...quando são pedidos e quando deles depende a vida.

Aprendi que...quanto menos tempo se desperdiça...mais coisas posso fazer.

Vou aprendendo a observar as coisas simples da vida. De pouco ou nada adianta dar valor às coisas exageradas e dramáticas da vida. A felicidade pode e deve ser encontrada no simples, no humilde. Aprender a dar valor ao que se pode alcançar e ao que já se conquistou, de valorizar o que se tem, ao invés de ficar desejando o que no momento não se pode ter. Ambição, afinal, é uma coisa boa. Mas demais é sobra. É uma arte e tanto ficar feliz com o que se tem! Dê valor ao que está ao seu redor.


20/03/09

Eventos - Primavera - Março

Hoje decidi divulgar alguns eventos.
Começo pela Moita, tem início este sábado a QUINZENA DA JUVENTUDE.
Praça da República - Moita
Aproxima-se uma grande Quinzena.
De 21 de Março a 4 de Abril, muita música, cinema, desporto, jogos, teatro e dança vão invadir vários locais do concelho.
A Praça da República, na Moita, vai ser palco para a abertura oficial, a 21, reunindo, no mesmo espaço, desportos radicais com o “Moita Extreme Open Air”, um concerto com “La Selva Sur”, os Dj’s Joy Karyl Sound System, Dj Britt e Miss Sheila e a animação pela Companhia das Manhas.

(Foto do meu Mestre e Padrinho Nuno de Sousa)
Faço a divulgação de um evento onde Nuno de Sousa brilhará com as suas magníficas fotos, entre outros fotógrafos portugueses, este sábado, em Sintra.
Com a chegada da Primavera, nada melhor do que acontecer o BAILE DAS CAMÉLIAS, UMA TRADIÇÃO COM 65 ANOS
No dia 21 de Março, Sintra vai vestir-se a rigor para receber o tradicional Baile das Camélias, na Sociedade União Sintrense, pelas 22h. Uma festa que se realiza há já 65 anos. As camélias são o motivo da festa, por isso alguns milhares enfeitarão o espaço. Para a Sociedade União Sintrense receber este grande evento é necessário apanhar as camélias. Uma tarefa dos jardineiros da Câmara Municipal de Sintra que, dias antes, dedicam-se a apanhá-las em duas quintas – Quinta do Relógio e Quinta do Chindeler – e, ainda, no Estabelecimento Prisional de Sintra. Este ano, a orquestra "Fórmula 5" irá animar este baile que conta também neste dia com o lançamento de um CD da artista Helena da Paixão e uma exposição de fotografia com imagens de Sintra e Mafra - um desafio lançado ao site
fotogénicos.net pela Casa das Cenas – Educação pela Arte para fazer a capa deste CD que inclui duas fotos de dois fotógrafos, Helena Paixão e Diogo Ruas.
Ofereço a todos que me visitam, estas belas flores, pois teve hoje início a PRIMAVERA. Além das flores ofereço esta sedutora poesia de Miguel Torga, para reflectirmos sobre os prazeres desta estação do ano, cheia de maravilhosas e coloridas flores.

PERDIÇÃO
Neve na serra e sol nas semeadas.
Um poema simples, fácil de entender.
Eu é que trago as formas baralhadas,
E ao pé das fontes já não sei beber.

(Celorico, 11 de Janeiro de 1953) - Miguel Torga
VOTOS DE UMA PRIMAVERA
EM PAZ
E
ALEGRIA
PARA TODOS VÓS.

14/03/09

Cinema - "O LEITOR"

O mês de Fevereiro foi rico em excelentes filmes e eu tive oportunidade de ver alguns deles. Também acompanhei a cerimónia dos óscares e para o óscar de Melhor atriz, foram nomeadas estas actrizes:
Anne Hathaway (O Casamento de Rachel)
Angelina Jolie (A Troca)
Melissa Leo (Frozen River)
Meryl Streep (Dúvida)
Kate Winslet foi a merecida vencedora do óscar, no filme "O Leitor"
A história começa com Michael Berg (Ralph Fiennes) relembrando seu passado. O jovem Berg, interpretado por David Kross, envolve-se num relacionamento com uma mulher bem mais velha, Hanna (Kate Winslet), no final da década de 1950. Depois de uma intensa e peculiar relação sentimental, sexual e de leitura, Hanna desaparece misteriosamente. Oito anos depois, Berg é estudante de Direito e acompanha um julgamento de antigas guardas da SS (a polícia secreta do nazismo), acusadas de homicídio de 300 pessoas.
Para sua surpresa, Hanna é uma das acusadas.
O filme é marcado por três actos: romance, conflito e redenção, muito bem trabalhados pelo talentoso director Stephen Daldry, de "As Horas". Muitos elementos característicos do director estão na fita, como as relações com a arte de ler, a fotografia contrastante (claro e escuro no mesmo plano) nos lugares fechados e o estudo da alma humana em suas profundidades. A história original é de um livro, mas Daldry consegue colocar suas marcas ao fazer um filme, no mínimo, inquietante.
O romance entre os protagonistas é, do ponto de vista cinematográfico, muito sincero. Uma mulher e um garoto (o actor não é menor de idade) aparecem nus, juntos na cama. Essa sinceridade causa o primeiro impacto, já que estamos acostumados a assistir àquelas cenas, repletas de hipocrisia, nas quais a relação sexual é tratada de outra forma. Destaco a cena em que Berg janta com a família e se lembra de sua aventura, memorável! Sem falar da peculiaridade relacionada à leitura de livros…
Quando o filme avança no tempo e assistimos ao julgamento de Hanna, várias questões polémicas envolvendo Ética e Direito vêm à tona. Hanna enxerga tudo em termos absolutos, é próprio de autoritarismos enxergar o mundo por uma óptica de absolutos. Ela tinha ordens de seus comandantes e tinha que cumpri-las a qualquer custo, poderia ser julgada culpada por isso?
Aliás, durante as décadas de 1930 e 1940, até o fim da Segunda Guerra, a sociedade alemã era conivente com o nazismo. O regime totalitário exercia repressão, mas não podia se sustentar sem apoio. A questão que se coloca é: poderia Hanna ser julgada por leis posteriores ao período em que trabalhou? Afinal, na sua época de "guarda", ela não cometeu crimes, mas ajudou o regime dominante. Ela só passaria a ser vista como um monstro depois de os Aliados vencerem a guerra e levaram a ideologia dos Direitos Humanos aos quatro cantos do mundo.
Conforme a história avança, as nossas opiniões vão sendo confrontadas. Hanna parece ser um monstro, mas a mulher tem outras nuances que desafiam nossa compreensão. Apesar de sua culpa, no final do filme, não poderemos negar a humanidade que existe dentro dela. E todas essas questões vêm envolvidas com o amor pela leitura e por um segredo de Hanna, crucial para algumas questões do filme.
Kate Winslet dá um show à parte, como já é característico de seus trabalhos. Sua expressão é poderosa, seus olhares são cortantes e sua presença em cena já se faz sentir lá dentro do peito. Seu trabalho é competente ao extremo.
O Leitor poderia ter facilmente caído em moralismo, mas, graças ao livro original e ao roteiro e direcção do filme, consegue contar uma história sensível e cheia de nuances. Com indicações merecidas ao Oscar de 2009, este filme entra para a lista de grandes filmes.



Imagens de excelente beleza e sensualidade da actriz vencedora do óscar

06/03/09

OLÁ MINHA "MENINA"

Carta para a Tânia

Olá minha “Menina”
Ando de dia para dia a pensar escrever-te esta carta.
Hoje decidi fazê-lo. Vamos fazer de conta que tu a lês, combinado?
Peço desculpas se, por vezes, as minhas palavras não forem de esperança, de fé, de compreensão. Já me conheces e sabes que não sou de falsidades, o que tenho para dizer, eu digo. É isso que tem dado cabo de mim, é ter muito para te dizer e andar a evitar fazê-lo, porque outros que lêem as minhas palavras têm-me criticado, mas eu já não aguento mais este impasse.
Acordo a pensar em ti, deito-me a rezar por ti.
Durante o dia penso em ti sempre que acontece algo que eu sei que gostavas de fazer, de ver, de partilhar.
Sempre que venho ao blog as lágrimas correm de forma intensa e sofrida, ao ler o que tantas pessoas te escrevem, todos a pedir que recuperes, com palavras de coragem e incentivo. Outros dizem: Não desistas! Fico furiosa quando leio isso, porque acho que tu não queres desistir.
Eu não te peço isso, porque sei que não está nas tuas mãos.
A prova é que já passaste por duas operações difíceis, muito próximas e gravíssimas, estando tão débil e continuas cá, entre nós.
Como diz o médico que te salvou – Dr. Baquero, tu és uma guerreira. Ele sabe bem, no estado lastimável em que te encontrou.
Desde o dia 23 de Dezembro que tudo mudou dentro de mim, quando fui visitar-te e ia toda feliz porque levava a prenda de Natal para te oferecer e, encontrei-te tão mal, abandonada em cima da cama, em sofrimento e desespero, deitada com a cabeça para os pés da cama, o tubo do oxigénio esticado ao máximo e tu não davas acordo de ti; nem deste conta que eu lá estive. Revoltada fui chamar o enfermeiro e disse-lhe que não estavas bem, que estavas com a cabeça para os pés, deitada ao contrário e ele ainda gozou com a situação e disse:
Ah, não se admire, isso é mesmo à Tânia!!!
Essas palavras cortaram-me o coração, por ver a falta de humanidade que existe em profissionais da saúde que lidam directamente com doentes, que são seres humanos. Acabei por lhe pedir uma folha de papel e escrevi um recado para ti, que ficou em cima da mesa de cabeceira e desde esse dia até hoje, não tivemos mais nenhuma conversa como deve ser…
Soube que uma hora depois acabaram por chamar a equipa que estava de urgência para te observar e…o diagnóstico não foi bom, muito pelo contrário. Tanto que no dia de Natal – 25/Dezembro/2008, foste de urgência para a Unidade de Cuidados Intermédios, pois a situação tinha agravado.
Nessa tarde estava eu a preparar-me para te ir visitar e levar a prenda, quando me informaram que tinhas sido transferida e não tinhas visitas.
Minha querida, daí em diante, nunca mais ficaste boa, sabia de ti e apercebi-me que ias piorando de dia para dia, até que um dia resolvi ir visitar-te aos Cuidados Intermédios e… foi a pior visita que fiz em toda a minha vida a alguém.
A dor e a revolta obrigaram-me a apresentar uma reclamação sobre o que vi com os meus olhos. É monstruosa a atitude dos profissionais de enfermagem que estavam de serviço, nesse fim de tarde. Disseram-me coisas horrendas que não pude aceitar; eu nem queria acreditar como existem pessoas assim, a trabalhar com doentes em situação gravíssima.
Insensíveis, desumanos! Umas autênticas bestas.
Também lhes disse que “todo o ser humano tem direito a morrer com dignidade” e a ideia não é abandonar aqueles que acham que “já não vale a pena fazer nada” como me foi dito.
Depois dessa visita, tudo aconteceu, de forma contínua e rápida: a paragem respiratória, as paragens cardíacas, a operação ao coração, uma ligeira melhoria e o momento fatal, quando tiveste o AVC com uma extensão bastante grave e consequente operação à cabeça.
Eu pensava que era uma mulher corajosa, mas porque te amo muito, percebi que não tenho tanta coragem como gostaria ou pensava ter. A última vez que te visitei fiquei de rastos, não aguentei e por duas vezes chorei, foi mais forte do que eu. PERDOA-ME TÂNIA, sinto que sou fraca diante da tua imagem.
A ignorância acerca do teu estado é algo que me tem perturbado bastante. Queria muito saber se nos ouves, se sofres, o que vai dentro de ti, como te sentes durante este tempo horrível de espera, uma espera interminável que destrói psicologicamente aqueles que te amam.
Tantas coisas tenho à tua espera.
Lembras-te das prendinhas que te trouxe, da minha viagem à Índia? Jamais esquecerei o brilho dos teus olhos quando eu ia tirando as pulseiras do saco, o elefante com a tromba virada para cima e disse-te que era sinal de sorte o facto de ter a tromba para cima, a túnica, além daquilo que não levei para tu veres quando estavas na enfermaria. Estou à espera que voltes para casa, para te mostrar a linda colcha que comprei para a tua cama. Logo tu que adoras tudo que tem a ver com o Oriente.
O meu pensamento esteve contigo na noite dos Óscares, pois desta vez consegui ficar acordada até às 5h da manhã a ver toda a cerimónia em directo e pensava: nos outros anos a Tânia via sempre a cerimónia pela noite dentro e eu não podia porque no dia seguinte ia trabalhar. Este ano vi eu tudo e espero por ti para te contar, pode ser?
Sempre que vou ao cinema lembro-me de ti e penso: este filme, de certeza a Tânia gostaria de ver. “Quem quer ser Bilionário” ganhou o Óscar de “melhor filme” e foi todo filmado na Índia; sei que ias adorar ver.
Vou sabendo que a tua mãe leva o teu MP3 e põe-te a ouvir música; levou o terço com cheiro a rosas que eu trouxe do Vaticano e o deixa nas tuas mãos enquanto reza, depois quando o tira diz à enfermeira que cheire as tuas mãos e ela fica deliciada e diz:Humm, que cheirinho a rosas!
Tânia, tenho muitas saudades tuas.
Fazes falta a todos nós, aos teus animais, às tuas amigas, pessoas desconhecidas de todo o mundo e aos teus familiares.
Tânia, o meu maior desejo é que estejas em paz, sem sofrer!
Como eu gostaria de saber se ouves a música? Se ouves o que te dizemos? Se sentes as festas que te faço por cima das sobrancelhas, encostada à ligadura que te envolve a cabeça? Se sentes os beijos que te dou nas mãos e nos braços?
Ai, Meu Deus!!! Quanta mágoa por nada saber! Pior ainda, nada poder fazer…
Em 2008 estiveste internada, passaste mal, mas entretanto recuperaste e no dia 5 de Março deram-te alta, vieste para casa precisamente 2 dias depois do aniversário da tua mãe.
Há um ano atrás estávamos todos felizes por te ter de regresso a casa.
Esta semana voltei à tua casa e estive no teu quarto…
Oh, Tânia, é tão triste olhar para o teu quartinho, as tuas coisinhas e não te ver ali…o Alex(cão) foi logo atrás de mim, com uma tristeza no olhar, um andar arrastado…a tua mãe disse-me logo para não me sentar na tua cama, pois o cão anda a sofrer por sentir a tua falta.
Vês querida, todos queremos que voltes para a tua vida normal, o refugio do teu quarto.
Hoje fui ao Modelo e, tu sabes que logo à entrada há a secção dos livros. Vi o livro “Quem quer ser Bilionário”, precisamente o livro sobre o filme que vi, adorei e ganhou o Óscar; pensei: se eu tivesse a certeza que a Tânia me ouve, comprava o livro e na próxima visita que te fosse fazer, levava e lia-te durante 1 hora para saberes como é a história do filme.
Como vês, minha princesa, a Tia está contigo sempre no pensamento.
Mas, agora vou terminar a carta, não quero que te canses a ler, daqui a uns dias escrevo-te outra vez, pode ser?
É que tenho outras novidades para te contar… será surpresa.
Beijinhos “fofinha” da Tia.


a tua "menina" está triste, sente muito a tua falta, chama por ti!!!