06/03/09

OLÁ MINHA "MENINA"

Carta para a Tânia

Olá minha “Menina”
Ando de dia para dia a pensar escrever-te esta carta.
Hoje decidi fazê-lo. Vamos fazer de conta que tu a lês, combinado?
Peço desculpas se, por vezes, as minhas palavras não forem de esperança, de fé, de compreensão. Já me conheces e sabes que não sou de falsidades, o que tenho para dizer, eu digo. É isso que tem dado cabo de mim, é ter muito para te dizer e andar a evitar fazê-lo, porque outros que lêem as minhas palavras têm-me criticado, mas eu já não aguento mais este impasse.
Acordo a pensar em ti, deito-me a rezar por ti.
Durante o dia penso em ti sempre que acontece algo que eu sei que gostavas de fazer, de ver, de partilhar.
Sempre que venho ao blog as lágrimas correm de forma intensa e sofrida, ao ler o que tantas pessoas te escrevem, todos a pedir que recuperes, com palavras de coragem e incentivo. Outros dizem: Não desistas! Fico furiosa quando leio isso, porque acho que tu não queres desistir.
Eu não te peço isso, porque sei que não está nas tuas mãos.
A prova é que já passaste por duas operações difíceis, muito próximas e gravíssimas, estando tão débil e continuas cá, entre nós.
Como diz o médico que te salvou – Dr. Baquero, tu és uma guerreira. Ele sabe bem, no estado lastimável em que te encontrou.
Desde o dia 23 de Dezembro que tudo mudou dentro de mim, quando fui visitar-te e ia toda feliz porque levava a prenda de Natal para te oferecer e, encontrei-te tão mal, abandonada em cima da cama, em sofrimento e desespero, deitada com a cabeça para os pés da cama, o tubo do oxigénio esticado ao máximo e tu não davas acordo de ti; nem deste conta que eu lá estive. Revoltada fui chamar o enfermeiro e disse-lhe que não estavas bem, que estavas com a cabeça para os pés, deitada ao contrário e ele ainda gozou com a situação e disse:
Ah, não se admire, isso é mesmo à Tânia!!!
Essas palavras cortaram-me o coração, por ver a falta de humanidade que existe em profissionais da saúde que lidam directamente com doentes, que são seres humanos. Acabei por lhe pedir uma folha de papel e escrevi um recado para ti, que ficou em cima da mesa de cabeceira e desde esse dia até hoje, não tivemos mais nenhuma conversa como deve ser…
Soube que uma hora depois acabaram por chamar a equipa que estava de urgência para te observar e…o diagnóstico não foi bom, muito pelo contrário. Tanto que no dia de Natal – 25/Dezembro/2008, foste de urgência para a Unidade de Cuidados Intermédios, pois a situação tinha agravado.
Nessa tarde estava eu a preparar-me para te ir visitar e levar a prenda, quando me informaram que tinhas sido transferida e não tinhas visitas.
Minha querida, daí em diante, nunca mais ficaste boa, sabia de ti e apercebi-me que ias piorando de dia para dia, até que um dia resolvi ir visitar-te aos Cuidados Intermédios e… foi a pior visita que fiz em toda a minha vida a alguém.
A dor e a revolta obrigaram-me a apresentar uma reclamação sobre o que vi com os meus olhos. É monstruosa a atitude dos profissionais de enfermagem que estavam de serviço, nesse fim de tarde. Disseram-me coisas horrendas que não pude aceitar; eu nem queria acreditar como existem pessoas assim, a trabalhar com doentes em situação gravíssima.
Insensíveis, desumanos! Umas autênticas bestas.
Também lhes disse que “todo o ser humano tem direito a morrer com dignidade” e a ideia não é abandonar aqueles que acham que “já não vale a pena fazer nada” como me foi dito.
Depois dessa visita, tudo aconteceu, de forma contínua e rápida: a paragem respiratória, as paragens cardíacas, a operação ao coração, uma ligeira melhoria e o momento fatal, quando tiveste o AVC com uma extensão bastante grave e consequente operação à cabeça.
Eu pensava que era uma mulher corajosa, mas porque te amo muito, percebi que não tenho tanta coragem como gostaria ou pensava ter. A última vez que te visitei fiquei de rastos, não aguentei e por duas vezes chorei, foi mais forte do que eu. PERDOA-ME TÂNIA, sinto que sou fraca diante da tua imagem.
A ignorância acerca do teu estado é algo que me tem perturbado bastante. Queria muito saber se nos ouves, se sofres, o que vai dentro de ti, como te sentes durante este tempo horrível de espera, uma espera interminável que destrói psicologicamente aqueles que te amam.
Tantas coisas tenho à tua espera.
Lembras-te das prendinhas que te trouxe, da minha viagem à Índia? Jamais esquecerei o brilho dos teus olhos quando eu ia tirando as pulseiras do saco, o elefante com a tromba virada para cima e disse-te que era sinal de sorte o facto de ter a tromba para cima, a túnica, além daquilo que não levei para tu veres quando estavas na enfermaria. Estou à espera que voltes para casa, para te mostrar a linda colcha que comprei para a tua cama. Logo tu que adoras tudo que tem a ver com o Oriente.
O meu pensamento esteve contigo na noite dos Óscares, pois desta vez consegui ficar acordada até às 5h da manhã a ver toda a cerimónia em directo e pensava: nos outros anos a Tânia via sempre a cerimónia pela noite dentro e eu não podia porque no dia seguinte ia trabalhar. Este ano vi eu tudo e espero por ti para te contar, pode ser?
Sempre que vou ao cinema lembro-me de ti e penso: este filme, de certeza a Tânia gostaria de ver. “Quem quer ser Bilionário” ganhou o Óscar de “melhor filme” e foi todo filmado na Índia; sei que ias adorar ver.
Vou sabendo que a tua mãe leva o teu MP3 e põe-te a ouvir música; levou o terço com cheiro a rosas que eu trouxe do Vaticano e o deixa nas tuas mãos enquanto reza, depois quando o tira diz à enfermeira que cheire as tuas mãos e ela fica deliciada e diz:Humm, que cheirinho a rosas!
Tânia, tenho muitas saudades tuas.
Fazes falta a todos nós, aos teus animais, às tuas amigas, pessoas desconhecidas de todo o mundo e aos teus familiares.
Tânia, o meu maior desejo é que estejas em paz, sem sofrer!
Como eu gostaria de saber se ouves a música? Se ouves o que te dizemos? Se sentes as festas que te faço por cima das sobrancelhas, encostada à ligadura que te envolve a cabeça? Se sentes os beijos que te dou nas mãos e nos braços?
Ai, Meu Deus!!! Quanta mágoa por nada saber! Pior ainda, nada poder fazer…
Em 2008 estiveste internada, passaste mal, mas entretanto recuperaste e no dia 5 de Março deram-te alta, vieste para casa precisamente 2 dias depois do aniversário da tua mãe.
Há um ano atrás estávamos todos felizes por te ter de regresso a casa.
Esta semana voltei à tua casa e estive no teu quarto…
Oh, Tânia, é tão triste olhar para o teu quartinho, as tuas coisinhas e não te ver ali…o Alex(cão) foi logo atrás de mim, com uma tristeza no olhar, um andar arrastado…a tua mãe disse-me logo para não me sentar na tua cama, pois o cão anda a sofrer por sentir a tua falta.
Vês querida, todos queremos que voltes para a tua vida normal, o refugio do teu quarto.
Hoje fui ao Modelo e, tu sabes que logo à entrada há a secção dos livros. Vi o livro “Quem quer ser Bilionário”, precisamente o livro sobre o filme que vi, adorei e ganhou o Óscar; pensei: se eu tivesse a certeza que a Tânia me ouve, comprava o livro e na próxima visita que te fosse fazer, levava e lia-te durante 1 hora para saberes como é a história do filme.
Como vês, minha princesa, a Tia está contigo sempre no pensamento.
Mas, agora vou terminar a carta, não quero que te canses a ler, daqui a uns dias escrevo-te outra vez, pode ser?
É que tenho outras novidades para te contar… será surpresa.
Beijinhos “fofinha” da Tia.


a tua "menina" está triste, sente muito a tua falta, chama por ti!!!

16 comentários:

Mário Margaride disse...

Querida amiga

Ao ler esta carta, senti um tremor cá dentro! A saudade de alguém que amamos...ficará eternamente dentro de nós.

Beijinhos e um excelente fim de semana!

Mário

Maria disse...

Tulipa

Depois de ler a tua carta só consigo deixar-te um abraço muito apertado...

Je Vois La Vie en Vert disse...

Querida Tulipa,

Com emoção, deixo aqui os meus beijinhos verdinhos de esperança.

Paula Barros disse...

Imagino a dor que sentiu ao escrever, ao relembrar....é triste ler.

abraços

Maré Viva disse...

Uma carta escrita com o coração, que a Tânia vai ler, comovida, quando voltar para nós.
Sou uma mulher de fé e tu, no fundo, também és.
Um beijo e nunca percas a esperança.

Ailime disse...

Túlipa,
Só consigo dizer: Força, muita força e confiança!
Que Deus faça pela Tânia o melhor e que todos rezemos.
Um grande beijo de esperança!

Peter disse...

Feliz Dia da Mulher, minha cara amiga.

Coloquei um post alusivo ao dia no meu outro blogue, que pouco utilizo, eu sei.

http://oblogdopeter.blogspot.com

gaivota disse...

depois destas palavras, nem sei dizer mais nada...
um beijo enorme à tânia e para ti
beijinhossssssssssss

Rosa dos Ventos disse...

Choro sempre que sei notícias da Tânia...
Estou com ela e com todos os que a amam.
Eu conheço esse tipo de dor de muito perto e que terminou na morte de um filho...
Para a Tânia desejo que tudo possa voltar ao normal e que resista.

Abraço

Elvira Carvalho disse...

Sem palavras para comentar, deixo um abraço apertadinho.

Luisa Hingá disse...

Que a Tania recupere rapidamente.
Abracinho apertado.

Å®t Øf £övë disse...

Depois de tudo o que li, não há palavras que possam ser ditas. Temos que ficar apenas com a reflexão sobre o que lemos, e partilhar com vocês essa dor imensa, no entanto deixa-me que te diga que estou com fé que o elefante com a tromba virada para cima que lhe trouxeste da Índia ainda lhe vai trazer muita sorte.
Bjs.

rosa dourada/ondina azul disse...

Coragem, Amiga!

Depois desta carta, quase nada mais se pode dizer!

Beijo para ti,
com amizade e carinho,

Zé Povinho disse...

Pouco tenho a dizer, excepto que estou por aqui a torcer pela Tânia.
Abraço do Zé

Sónia disse...

Sem palavras, apenas deixo um abraço muito apertado, cheio de força.

Pitucha disse...

Tulipa

Sempre a pensar na Tânia.
Beijos