11/01/12

HOMENAGEM À CRIADORA DO BLOG

Dei por ENCERRADO este blog.

Mas...pensando melhor, antes de "parar a actividade",

NÃO ENCERRAR

preciso de

AGRADECER:

a todos os "SEGUIDORES" do blog

a todos que foram presença assídua, mesmo não sendo seguidores

e, principalmente fazer uma Homenagem Póstuma à criadora do blog

minha sobrinha TÂNIA


Sendo hoje um dia que ficará para sempre na minha memória,

tenho estado a ler os blogues dela,

os meus blogues e todos os posts que fiz sobre ela,

faço uma retrospectiva e, em 2 posts falarei da pessoa que me incentivou a criar os blogues, os criou e eu depois continuei o hobby até hoje, já lá vão quase 7 anos, que comecei com o "Kalinka"!!!


Muitas recordações de momentos bons na sua companhia, mas principalmente falar da fase terminal da vida da Tânia, que merecia ter sido tratada com mais dignidade, como todos os seres humanos merecem e é esse o trabalho "obrigatório" dos Profissionais da Saúde.

Falo assim e sei do que falo, porque trabalhei nessa área e sei bem ao que me refiro. O processo de internamento e acompanhamento da Tânia teve muitas falhas e só peço que a "justiça Divina" actue perante os "criminosos"!!!

Faz precisamente HOJE - 3 anos - que teve início o "princípio do FIM"...

dia 10 de Janeiro de 2008 foi a última vez que os seus pais ouviram a sua voz, desde 11 de Janeiro até ao dia do FIM - 27 de Março de 2009, mais ninguém ouviu uma palavra da Tânia.

E...tanto que havia para dizer...


Nos meus 2 blogues fui acompanhando esta triste história que hoje relembro. DESCANSA EM PAZ, meu Anjo!





Dia 24/12/08 fiz um post com o título:
ESTOU TRISTE
Lamento não escrever coisas bonitas como todos esperam nestes dias do ano. Eu sou aquilo que a minha alma e o meu coração sentem, daí que a minha imagem é de alguém muito destroçado.

No dia 23 de Dezembro foi quando me apercebi como a minha menina estava entregue ao abandono dos profissionais de saúde que a acompanhavam e desde esse dia em diante criou-se uma revolta dentro de mim que culminou com a apresentação de uma "reclamação" ao Hospital, mas como é do conhecimento geral, eles defendem-se uns aos outros e de nada adiantou a referida reclamação, apenas "fiquei de consciência tranquila" por ter tentado defender um ser humano que não se podia já defender, infelizmente.

A seguir à foto transcrevo as últimas palavras escritas pela Tânia, no Hospital, no seu blog, no tal dia que fui visitá-la - 23/Dezembro/2008



Final day
Hoje a minha companheira de quarto vai embora passar o Natal a casa, a D. Felícia, e fico muito contente por ela.

Infelizmente... fico sem internet... alguém por aí que me empreste uma net móvel? :p Eu pago! ehehhe
Ultimamente tem sido só testes e mais testes pois não me apetece falar de mim nem da doença nem do hospital.

Vir ao computador de vez em quando já é muito bom...

Desculpem bookcrossers mas não tenho lido NADA.

Não sei se terei vontade por enquanto.
Continuo a não querer visitas, não levem a mal, ok?

Tenho adorado as poucas que tenho tido, mas não ando com espírito, só isso. Noto que as pessoas saiem daqui ainda mais preocupadas, não é esse o meu desejo. E como ando mais vulnerável, qualquer coisa começo logo a chorar...
O curso vai ter que continuar a aguardar, não me dão subsídio escolar apesar de toda a papelada que consegui arranjar.

Olha... paciência... Também não iria conseguir estudar e acabar o curso...
Mais uma vez não se esqueçam que têm sido tudo posts agendados.

Ah! E espero que gostem da música que coloquei de momento.

1000000000 beijos para todos!

E um muito especial para a aonja... :)


Repasso a carta que lhe escrevi, na impossibilidade de falar com ela e ela me ouvir, na esperança que um dia a pudesse ler, o que não aconteceu:


Carta para a Tânia
Olá minha “Menina”

Ando de dia para dia a pensar escrever-te esta carta.
Hoje decidi fazê-lo.

Vamos fazer de conta que tu a lês, combinado?
Peço desculpas se, por vezes, as minhas palavras não forem de esperança, de fé, de compreensão. Já me conheces e sabes que não sou de falsidades, o que tenho para dizer, eu digo. É isso que tem dado cabo de mim, é ter muito para te dizer e andar a evitar fazê-lo, porque outros que lêem as minhas palavras têm-me criticado, mas eu já não aguento mais este impasse.
Acordo a pensar em ti, deito-me a rezar por ti.
Durante o dia penso em ti sempre que acontece algo que eu sei que gostavas de fazer, de ver, de partilhar.

Sempre que venho ao blog as lágrimas correm de forma intensa e sofrida, ao ler o que tantas pessoas te escrevem, todos a pedir que recuperes, com palavras de coragem e incentivo.

Outros dizem: Não desistas!

Fico furiosa quando leio isso, porque acho que tu não queres desistir.
Eu não te peço isso, porque sei que não está nas tuas mãos.
A prova é que já passaste por duas operações difíceis, muito próximas e gravíssimas, estando tão débil e continuas cá, entre nós.
Como diz o médico que te salvou – Dr. Baquero, tu és uma guerreira.

Ele sabe bem, no estado lastimável em que te encontrou.
Desde o dia 23 de Dezembro que tudo mudou dentro de mim, quando fui visitar-te e ia toda feliz porque levava a prenda de Natal para te oferecer e, encontrei-te tão mal, abandonada em cima da cama, em sofrimento e desespero, deitada com a cabeça para os pés da cama, o tubo do oxigénio esticado ao máximo e tu não davas acordo de ti; nem deste conta que eu lá estive.

Revoltada fui chamar o enfermeiro e disse-lhe que não estavas bem, que estavas com a cabeça para os pés, deitada ao contrário e ele ainda gozou com a situação e disse:

Ah, não se admire, isso é mesmo à Tânia!!!

Essas palavras cortaram-me o coração, por ver a falta de humanidade que existe em profissionais da saúde que lidam directamente com doentes, que são seres humanos.

Acabei por lhe pedir uma folha de papel e escrevi um recado para ti, que ficou em cima da mesa de cabeceira e desde esse dia até hoje, não tivemos mais nenhuma conversa como deve ser…
Soube que uma hora depois acabaram por chamar a equipa que estava de urgência para te observar e…o diagnóstico não foi bom, muito pelo contrário. Tanto que no dia de Natal – 25/Dezembro/2008, foste de urgência para a Unidade de Cuidados Intermédios, pois a situação tinha agravado.
Nessa tarde estava eu a preparar-me para te ir visitar e levar a prenda, quando me informaram que tinhas sido transferida e não tinhas visitas.
Minha querida, daí em diante, nunca mais ficaste boa, sabia de ti e apercebi-me que ias piorando de dia para dia, até que um dia resolvi ir visitar-te aos Cuidados Intermédios e… foi a pior visita que fiz em toda a minha vida a alguém.
A dor e a revolta obrigaram-me a apresentar uma reclamação sobre o que vi com os meus olhos.

É monstruosa a atitude dos profissionais de enfermagem que estavam de serviço, nesse fim de tarde. Disseram-me coisas horrendas que não pude aceitar; eu nem queria acreditar como existem pessoas assim, a trabalhar com doentes em situação gravíssima.Insensíveis, desumanos!

Umas autênticas bestas.
Também lhes disse que “todo o ser humano tem direito a morrer com dignidade” e a ideia não é abandonar aqueles que acham que “já não vale a pena fazer nada” como me foi dito.
Depois dessa visita, tudo aconteceu, de forma contínua e rápida: a paragem respiratória, as paragens cardíacas, a operação ao coração, uma ligeira melhoria e o momento fatal, quando tiveste o AVC com uma extensão bastante grave e consequente operação à cabeça.

Eu pensava que era uma mulher corajosa, mas porque te amo muito, percebi que não tenho tanta coragem como gostaria ou pensava ter.

A última vez que te visitei fiquei de rastos, não aguentei e por duas vezes chorei, foi mais forte do que eu.

PERDOA-ME TÂNIA, sinto que sou fraca diante da tua imagem.

A ignorância acerca do teu estado é algo que me tem perturbado bastante. Queria muito saber se nos ouves, se sofres, o que vai dentro de ti, como te sentes durante este tempo horrível de espera, uma espera interminável que destrói psicologicamente aqueles que te amam.

Tantas coisas tenho à tua espera.
Lembras-te das prendinhas que te trouxe, da minha viagem à Índia?

Jamais esquecerei o brilho dos teus olhos quando eu ia tirando as pulseiras do saco, o elefante com a tromba virada para cima e disse-te que era sinal de sorte o facto de ter a tromba para cima, a túnica, além daquilo que não levei para tu veres quando estavas na enfermaria.

Estou à espera que voltes para casa, para te mostrar a linda colcha que comprei para a tua cama.

Logo tu que adoras tudo que tem a ver com o Oriente.

O meu pensamento esteve contigo na noite dos Óscares, pois desta vez consegui ficar acordada até às 5h da manhã a ver toda a cerimónia em directo e pensava: nos outros anos a Tânia via sempre a cerimónia pela noite dentro e eu não podia porque no dia seguinte ia trabalhar.

Este ano vi eu tudo e espero por ti para te contar, pode ser?

Sempre que vou ao cinema lembro-me de ti e penso:

este filme, de certeza a Tânia gostaria de ver.

“Quem quer ser Bilionário” ganhou o Óscar de “melhor filme” e foi todo filmado na Índia; sei que ias adorar ver.

Vou sabendo que a tua mãe leva o teu MP3 e põe-te a ouvir música;

levou o terço com cheiro a rosas que eu trouxe do Vaticano e o deixa nas tuas mãos enquanto reza, depois quando o tira diz à enfermeira que cheire as tuas mãos e ela fica deliciada e diz:

Humm, que cheirinho a rosas!

Tânia, tenho muitas saudades tuas.
Fazes falta a todos nós, aos teus animais, às tuas amigas, pessoas desconhecidas de todo o mundo e aos teus familiares.

Tânia, o meu maior desejo é que estejas em paz, sem sofrer!

Como eu gostaria de saber se ouves a música?

Se ouves o que te dizemos?

Se sentes as festas que te faço por cima das sobrancelhas, encostada à ligadura que te envolve a cabeça?

Se sentes os beijos que te dou nas mãos e nos braços?

Ai, Meu Deus!!!

Quanta mágoa por nada saber!

Pior ainda, nada poder fazer…

Em 2008 estiveste internada, passaste mal, mas entretanto recuperaste e no dia 5 de Março deram-te alta, vieste para casa precisamente 2 dias depois do aniversário da tua mãe.
Há um ano atrás estávamos todos felizes por te ter de regresso a casa.
Esta semana voltei à tua casa e estive no teu quarto…
Oh, Tânia, é tão triste olhar para o teu quartinho, as tuas coisinhas e não te ver ali…o Alex(cão) foi logo atrás de mim, com uma tristeza no olhar, um andar arrastado…a tua mãe disse-me logo para não me sentar na tua cama, pois o cão anda a sofrer por sentir a tua falta.
Vês querida, todos queremos que voltes para a tua vida normal, o refugio do teu quarto.

Hoje fui ao Modelo e, tu sabes que logo à entrada há a secção dos livros.

Vi o livro “Quem quer ser Bilionário”, precisamente o livro sobre o filme que vi, adorei e ganhou o Óscar; pensei:

se eu tivesse a certeza que a Tânia me ouve, comprava o livro e na próxima visita que te fosse fazer, levava e lia-te durante 1 hora para saberes como é a história do filme.

Como vês, minha princesa, a Tia está contigo sempre no pensamento.
Mas, agora vou terminar a carta, não quero que te canses a ler, daqui a uns dias escrevo-te outra vez, pode ser?
É que tenho outras novidades para te contar… será surpresa.
Beijinhos “fofinha” da Tia.


No mês de Janeiro de 2008 alguém escreveu num dos blogues criados para a Tânia o que tinha acontecido na visita que fiz ao Hospital, partilhei com os leitores do blog e repasso aqui:


15-Janeiro
Ontem - 5ª feira fui visitar a Tânia. Tal como alguém escreveu no blog do bookcrossing, a coisa não correu nada bem:
As notícias de hoje à noite não foram muito boas. A Tânia teve a visita da tia e não reagiu à sua presença e encontra-se mais sonolenta. Esteve a partir da tarde sempre sonolenta sem demonstrar qualquer tipo de reacção.

Sei que não era isto que queriam ler mas temos que pensar que a Tânia foi operada ao coração, estando já num estado de saúde muito precário antes. O que os enfermeiros e médicos nos dizem é que estas situações demoram sempre muito tempo até que o paciente se encontre estabilizado e, como nós não queremos, mas seria de esperar, vão existir dias bons e dias menos bons. Infelizmente este é um deles.

A sua situação mantém-se estável, apesar de não ter tido reacções hoje à tarde e noite...
Não é fácil chegar ali e ver a Tânia rodeada de vários equipamentos parecidos com estes. Para quem é impressionável, se estes 4 vos impressionam, imaginem outros quatro e alguns bem maiores que estes. Todo o corpo da Tânia está inactivo, as máquinas é que trabalham por ela, o ventilador faz com que ela respire através da máquina; o tubo naso-gástrico faz com que ela se alimente pelo tubo; o coração funciona através do suporte ventricular que está depositado em cima da barriga dela, como é transparente vê-se o sangue a ser bombeado e ouve-se o pum,pum,pum,pum...
o tique-taque de qualquer coração;

está algaliada por isso, não sente vontade de urinar, enfim...tudo o que podem imaginar não é nada do que se vê, indo lá visitá-la.
Também tinha uma fita adesiva colocada na testa, que está ligada por um fio a um monitor que mostra toda a sua actividade cerebral; como se estivesse a fazer um electroencefalograma contínuo.

Também "partilhei" com os leitores do blog um artigo que saiu num jornal, sobre a HISTÓRIA DA TÂNIA, mesmo antes de falecer a "minha menina" era lembrada por todos de norte a sul do País e mesmo fora de Portugal:


Dia de S. Valentim: Uma história de amor
Nunca na vida, a minha sobrinha pensou que falassem dela num jornal.
E, logo pelas piores razões...ou seja, uma história de amor diferente das do costume, por ela estar na situação que está, infelizmente.
Ela contou-me, há 2 meses atrás, que já tinha sido contactada pela SIC para estar presente num programa, para falar do problema de saúde dela, quando souberam que ela, com 25 anos tinha um CDI e, ela recusou.
Agora "alguém" do Jornal "Campeão das Províncias" decidiu falar sobre a história da Tânia e do Cláudio, aqui:
www.campeaoprovincias.com
Secção Sociedade:
Tânia tem 26 anos e está na cama de um hospital, a lutar pela vida.
Cláudio, o namorado dela, mais ou menos da mesma idade, vive na esperança de a ver sorrir novamente. Não está sempre à cabeceira dela mas se pudesse provavelmente era isso que faria.Esta história é real, é portuguesa e está a prender a atenção de todos quantos conhecem a jovem, bem como de muitas outras pessoas que passam pelo blogue dela e pelo blogue que os amigos fizeram de propósito para se manterem informados.Quem entra no sítio da Tânia fica logo com uma ideia de que pessoa é esta que tantos amigos tem e da força que a mantém à vida, mesmo quando o seu jovem coração minado por uma doença grave dá sinais de fraqueza.“Olá! Eu sou a Tânia, tenho 26 anos e infelizmente sofro de Miocardiopatia Dilatada... Gosto de livros, filmes, trocas com pessoas à volta do mundo (postais, selos, souvenirs, etc), artes manuais, animais, passear, etc... Estou a tirar o curso de Ciências Sociais na Uab. Sintam-se à vontade no meu cantinho!”O convite é tentador e leva-nos ao mundo de alguém que de “pikena tonta” não tem nada, antes pelo contrário. Dá-nos a conhecer uma jovem que dá valor aos gestos, aos bons gestos, como a doação de órgãos (ela própria precisa de um coração), a solidariedade para com os mais desfavorecidos (crianças, seropositivos, animais abandonados, e por aí fora...), a partilha de conhecimentos, através da leitura (bookcrossig) e dos postais que troca com pessoas de todo o mundo, e a arte.Tem outros dois blogues, um em que promove a venda das bijuterias que faz para ganhar algum dinheiro e outro, o chamado “baú das bugigangas” para vender, dar ou trocar objectos que tem a mais em casa mas que ainda podem ser úteis a alguém. Mostra que tem ideias e empreende-as.A Tânia está mal, mas ninguém desiste dela. Pelo contrário. Em torno dela formou-se uma corrente de solidariedade afectiva, alimentada pelos amigos de todas as horas.Um dos últimos textos que escreveu no blogue o namorado faz-lhe uma declaração de amor, numa composição de palavras de sublime intensidade que atira a um canto qualquer prenda oca que se possa trocar no Dia dos Namorados.“Apesar de todas as limitações dela e viagens ao hospital nada disso me importou, ela é unica e muito preciosa, é a minha princesa e não merece nada disto... A vida tem sido demasiado cruel e injusta para alguém que nunca fez nada de mal a ninguém, sempre se preocupou mais com os outros e com os animais do que com ela! (...) Ela vai conseguir e peço que acreditem nela, já passou por tanta coisa mas continua cá, e vai ter de continuar pois eu preciso dela tal como as plantas precisam do sol. Ela é a minha luz e só eu sei o que sinto quando a tenho nos meus braços... Completas-me. Tu e eu somos um. Agora e sempre. Preciso de ti...”.
Do Cláudio para a Tânia, em pikenatonta.blogspot.com
Eu, como Tia da Tânia, reafirmo todas as palavras do Cláudio, "ela" é tal e qual ele diz, um doce de menina.
Iolanda Chaves escreveu esta história no jornal onde trabalha e eu tomei a liberdade de aqui publicar. Obrigada Iolanda.