24/12/08

ESTOU TRISTE

Lamento não escrever coisas bonitas como todos esperam nestes dias do ano.
Eu sou aquilo que a minha alma e o meu coração sentem, daí que a minha imagem é de alguém muito destroçado.
O meu dia de ontem foi terrível, espero não ter outro idêntico tão cedo...
Também peço que respeitem o meu sofrimento e por isso não vou permitir comentários neste texto tão triste e sentido de forma tão revoltante ao mesmo tempo.
Ontem estava destinado fazer as minhas visitas de Natal a duas pessoas de quem gosto muito, que estão internadas e vão passar o Natal longe do seu lar, num lugar nada agradável.
Tenham ou não perto de si alguém de quem gostam, nunca é a mesma coisa.
Eu sei o que digo, pois trabalhei em hospitais, em enfermaria de Medicina Interna, com situações graves de pessoas muito idosas, mas...na noite de Natal, poucas pessoas ficavam lá internadas. Numa enfermaria de 28 camas, se ficassem 8 doentes era excelente, sinal de que 20 delas tinham ido passar o Natal com os seus familiares ou amigos. Se o escrevo é porque foi isso mesmo que aconteceu.
Mas, ontem... cheguei ao hospital para ver a minha melhor amiga e encontrei-a numa enfermaria de 8 camas, era a única pessoa que lá estava, ali sozinha, abandonada, entregue a si mesma. Que desolação!!!
Completamente pedrada, drogada, seja lá a palavra mais adequada, não era um ser humano que estava ali, mais parecia um vegetal, que queria balbuciar algo e nada saía, ouvi um sussurro arrastado que não se compreendia...
Eu dei-lhe beijinhos, afaguei-lhe o rosto, estava gelada, cobri-a com carinho e fiz-lhe festinhas, que mais podia fazer?
Saí de lá completamente destroçada, mas...com esperança que a próxima visita que iria fazer a outro hospital não fosse tão triste como esta.
Tinha comprado uma prenda que sabia à partida ser do gosto da minha sobrinha e estava curiosa de ver a sua reacção ao abrir a prenda.
Sinto-me bem quando compro um presente e recebo um sorriso da pessoa a quem o ofereço. Juro que era isso que eu esperava ver com os meus olhos a 2 dias do Natal, um brilho no seu olhar, mas...algo pior me aguardava.
Encontro-a também sozinha, numa enfermaria de 3 camas, ali, inerte, completamente "apagada" entregue a si mesma, destapada, virada com a cabeça para os pés da cama...arrepiei-me e a 1ª reacção que tive foi tapar-lhe os pés para não ficar gelada. Umas lágrimas correram e fiquei ali sem saber o que fazer!
Decidi chamar um enfermeiro e perguntar-lhe como ela está e tem passado... algumas respostas me foram dadas, mas à pergunta que fiz:
acha normal ela não se alimentar há tanto tempo? a sua resposta foi evasiva, dizendo que normal não é, pois!!! Perguntei então, quando lhe colocam soro para ser minimamente alimentada e a resposta foi...que "ainda" não é necessário.
A revolta ia aumentando dentro de mim, tinha vontade de gritar, dizer o que me vai na alma, não estou a gostar da forma como ela está a ser "desacompanhada" porque não acho que esteja a ser bem acompanhada...enfim...muito mais haveria a dizer, mas... fico-me por aqui.
O que significa para eles, profissionais da saúde o "ainda" é cedo...será para mim, talvez "tarde demais", tomara que eu esteja errada. Tomara Meu Deus!!!
Depois de solicitar uma folha de papel para deixar um bilhete escrito saí dali, as lágrimas continuavam a deslizar teimosamente, o choro foi aumentando e vim do hospital até casa chorando convulsivamente, conduzindo e pensando:
Isto é espírito de Natal para alguém?
Duas pessoas que me são muito queridas a sofrer, entregues ao próprio destino.
Aquilo que tiver que ser...será!!!
Nós - família e amigos - nada podemos fazer. É esta impotência que me corrói por dentro, querer ajudar e não poder.
Já tinha deixado um bilhete na mesa de cabeceira da minha amiga, outro ali...
Por isso, a todos que me lêem, se eu não passar nos vossos blogues a desejar-vos umas Festas Felizes, não me levem a mal, porque não tenho cabeça nem disposição para nada. Perdoem-me, estou a ser muito sincera.

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