18/04/09

HOMENAGEM a JOSÉ FRANCO

Hoje lembrei-me de um lugar lindo, sempre que passo à porta é impossível não parar, visitar e deixar-me levar pelo sonho da infância. É verdade, no meu tempo de criança não havia um lugar assim mágico, como este que encontrei um dia, que ia a caminho da Ericeira e não pude deixar de visitar.
Sempre que algum dos meus correspondentes de fora do país, vem a Lisboa, levo-os lá e todos têm admirado e gostado de visitar. Compram uns souvenirs, postais para mais tarde recordar e comer um pãozinho com chouriço delicioso.
Já descobriram a que lugar me refiro?
Não...então, prossigam a leitura que já descobrem.
Ainda não consegui lá levar os meus netos, mas...ainda não perdi a esperança de o fazer.
É um espaço fantástico para levar as crianças, e sem duvida poder durante umas horas ser transportados para outra era. A nível de alimentação, já não encontramos o típico caldo verde, que durante muito tempo foi o prato do dia, mas ainda existe o famoso pão com chouriço
Aconselho vivamente a todos a visitarem esta aldeia. Localização: Sobreiro, na estrada que liga Mafra – Ericeira. Horário: 10h00 às 18h00
Dia de encerramento: Não encerra. Contactos: Tel.: 261815420

Nascido em 1920, José Franco foi oleiro, ceramista e escultor. Artista português que viu as suas obras, principalmente dentro do estilo da arte sacra, celebrizadas pelo mundo inteiro. Amigo pessoal do escritor Jorge Amado, que decorou a sua casa com obras de José Franco. Em relação a prémios foi-lhe atribuído o prémio na categoria de Arte pelo Rotary Club e foi ainda abençoado pelo Papa João Paulo II.
No entanto, a obra mais conhecida de José Franco é sem duvida a sua Aldeia Típica no Sobreiro. Ainda hoje visitada por miúdos e graúdos, e talvez a precisar de um pequeno restauro, esta aldeia é a fiel reprodução de uma aldeia típica do concelho de Mafra. Ali encontramos os vários costumes, ofícios de uma aldeia do inicio do século XX. Podemos ver também uma sala de aula, um coreto e até um castelo, onde a brincadeira está sempre presente.
"...a aldeia parece uma festa, no colorido, na graça, na invenção que nasce das mãos desse homem modesto e simples que, no entanto, é ao mesmo tempo sábio de profundo conhecimento e traz no coração e nos dedos o dom da criação. Nasceu para criar beleza, para dar de si aos demais, para tornar mais rico o património do povo português com as suas imagens, suas figuras de barro, seus vasos utilitários, seus bois de longos cornos seus peixes leves como versos, seus porcos e galos feitos de terra e de lirismo. Parece uma festa, a aldeia..." Jorge Amado sobre José Franco e a sua Aldeia Típica


Teve 15 irmãos; seus pais, extremamente pobres, eram oleiros de profissão, fabricantes das pequenas cerâmicas que os camponeses da região utilizavam nas suas casas: os pratos, as travessas, os jarros de vinho e água, os vasos para flores e pequenas peças de decoração, que também ele começou a fabricar e a vender à porta da sua pequena olaria e nas festas populares e feiras, transportando-as no burrito, que o acompanhava de terra em terra.
Por volta de 1945 José Franco sonhou que poderia, nas horas vagas, construír ao pé da casa em que vive e da sua oficina de oleiro um museu vivo da sua terra, uma espécie de um grande presépio, que reproduzisse os costumes e actividades laborais do tempo da sua infância e alguns aspectos fundamentais e actividades da vida campesina. E assim, dia a dia, a sua obra foi nascendo e crescendo. Num espaço que tem 2500 m2 construiu em escala natural um conjunto de elementos considerados fundamentais na vida do campo: O moinho de vento para moer o trigo. A cozinha rural onde é oferecida a todos os visitantes uma canequinha de vinho «moscatel». A capelinha dedicada a Santo António. A azenha movida a água para moer o milho. A oficina de carpintaria com utensílios do fim do século passado. A «loja da tia Helena» ou mercearia. A cozinha saloia, em cujo forno aquecido a lenha, diariamente se coze o pão da região, que os visitantes podem adquirir no local. As cadeiras do barbeiro e dentista. A casa do lavrador com o quarto e a salinha de estar e, à porta, o banco de pedra onde se sentam os namorados.
A parte mais deliciosa deste maravilhoso conjunto é constituída pelos cenários construídos em jeito e escala de presépio, com figurinhas de barro moldadas por José Franco e que reproduzem uma aldeia com as moradias que são cópias fieis das casas dos arredores de Lisboa dos fins do século passado.

Pela sua importância no panorama português, foi condecorado pelo ex-Presidente da República, Ramalho Eanes, com a comenda de Cavaleiro de S. Tiago. Recebeu ainda a comenda Infante D. Henrique em 2001, era Jorge Sampaio o Presidente da República, e recebeu o prémio de melhor artista em 2005.
Até finais de Outubro de 2008 fez algumas peças de artesanato na ‘Adeguinha do Atenueiro', na aldeia que criou.
A 25 de Dezembro sofreu uma queda e partiu o fémur da perna mas acabou por se recompor. Posteriormente, teve vários problemas de saúde dos quais surgiram complicações que levaram à sua morte. Faleceu aos 89 anos, na madrugada de 14 de Abril no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
'Era um homem cheio de ideias. Se não fosse ele a aldeia era uma terra morta. É uma grande perda para o país. Vai deixar muitas saudades', são as palavras que se ouvem. 'Era o património do Sobreiro. Se não fosse ele, muita gente não conhecia isto'. Na aldeia, todos recordam ‘o mestre' como uma pessoa de grande inteligência e com bom coração. 'Tratava toda a gente com carinho, tinha amor por todas as pessoas mesmo sem as conhecer',
Alguém lançou uma sugestão: 'por que não fazer uma escola de olaria com o nome dele?'.
Centenas de pessoas estiveram presentes no funeral do oleiro José Franco, no Sobreiro, em Mafra. O cortejo fúnebre saiu da capela de S. Sebastião e, antes de seguir para o cemitério da localidade, parou junto à aldeia saloia criada por José Franco, onde esteve durante alguns minutos, em silêncio, perante algumas das suas obras.
Um "Grande Homem" que merece a homenagem que lhe faço.
Descansa em Paz, José Franco.

17 comentários:

gaivota disse...

querida tulipa, tens aqui um texto muito bonito, sobre o sobreiro e a olaria de josé franco, é tudo muito bonito, já lá fomos muitas vezes, desde há muitos anos, e fomos acompanhando o desenvolvimento e crescimento da dita olaria, uma vez que tinha casa na ericeira e parávamos lá quase sempre
linda homenagem que também acompanho
beijinhos

Pena disse...

Talentosa Amiga:
SOBREIRO: um lugar a reter.
Pela maravilha. Sossego e encanto como se refere a esse local paradisíaco.
Deve ser um Ser humano fabuloso.
Escreve lindamente com um sentir poderoso de veracidade, amabilidade e gigantismo literário profundo.

Beijinhos de amizade e de imenso respeito.

pena

Sempre a lê-la atentamente e com delícia.

Brilhante, o que escreveu.
Sempre a admirá-la com estima...
OBRIGADO pela sua fantástica amizade.
Bem-Haja, amiga enorme!
Não! Não a poderia esquecer, nem ao seu poder de constantemente surpreender com o seu encanto e beleza.
Adorei!
Bem-Haja!

Nuno de Sousa disse...

Bela homangem a uma pessoa que conhecia desde pequeno de ir visitar a sua obra que tem no Sobreiro - ericeira, deixou ali uma grande obra com arte que fazia com amor... tinha uma mãos que sabia fazer tudo e mto bem.
Gostei deste teu post e da homenagem a este grande senhor.
Bjs
Nuno

Zé Povinho disse...

Bela homenagem ao bom homem que sempre foi José Franco, que vai deixar muitas saudades a todos os que conhecem bem a zona saloia.
Abraço do Zé

Duarte disse...

Por lá andei e muito gostei: dediquei-lhe um post, que bem o merece. Uma vida inteira dedicada a uma profissão tão dura como a de oleiro.
As figuras pequenas que existem nas vitrinas são autenticas obras de arte.
É certo, a povoação em si é a sua aldeia de Sobreiro.

Fizeste um excelente trabalho, muito documentado.
Gosto muito.

Beijos

Nothingandall disse...

É bom passar por aqui para descobrir lugares ímpares escondidos num país pequeno mas multifacetado e belo! Uma boa semana comn flores, sorrisos e ...poesia!

ShiningMoon disse...

Olá Amiga!
Como estás? Já não falamos há tanto tempo...
Conheço tão bem este sítio!
Lindo!
Sempre que passo lá, não resisto, lá vai mais um pão com chouriço!!!
É tão bom passear por lá...
Foi com alguma tristeza que soube da notícia da morte do Sr. José Franco, criador daquele espaço fantástico.
Só espero que a sua descendência o saiba preservar.
Bjitos.

Rosa dos Ventos disse...

Conheci José Franco, o oleiro com mãos de mágico, há muitos anos...
Tenho várias peças dele, mas a minha preferida é um Sto. António de uma dimensão razoável.
Quando li a notícia da sua morte também soube que ele tinha por hábito colocar o dedo grande do pé ligeiramente levantado, para dar um toque de humor às suas estatuetas.
Fui verificar nas que tenho e é , de facto, verdade.
Tiveste uma bela ideia nesta homenagem.
Eu ainda fotografei o tal Santo para fazer um post, mas depois fui adiando e entretanto perdi a oportunidade.
Ainda bem que tu o lembraste!

Abraço

Elvira Carvalho disse...

Muito bonita a reportagem, sobre um lugar de que sempre ouvi falar, mas que só conheci no ano passado.
Um abraço

Ana disse...

Uma excelente homenagem a alguém que bem a merece.
Um beijo, amiga.

Nilson Barcelli disse...

Fizeste um post muit bom com este assunto.
Não conheço, mas gostei de ler.
Bom resto de semana,
Beijos.

Unknown disse...

Tulipa

Justa e bonita homenagem a um grande artista que criou beleza durante muitos anos. Também costumava parar à beira da estrada par apreciar a sua arte.
Concordo contigo quanto ao quão bom seria construirem uma Escola de Olaria com o nome dele.
Excelente post.
Abraço.

poetaeusou . . . disse...

*
o Deus do Barro,
,
conchinhas,
,
*

OUTONO disse...

Tive o grato prazer de ser seu amigo. Por pouco vizinho...não falhasse uma compra de casa de férias...
Beijo-te comovido por esta homenagem justa.
Lembro-me da sua frase de sempre, quando olhava alegre as crianças, no seu trabalho de mãos moldadoras:
- O barro é aquilo que quisermos.

Beijinho

peciscas disse...

Quando fiz parte do meu serviço militar em Mafra, estive lá bem perto, passei à porta, mas nunca entrei.
Bastantes anos após, haveria de lá ir, com a minha mulher e o filhote, ainda criança, que adorou aquele espaço em que transparecia a arte e o carinho que o mestre Franco ali investiu.
O seu falecimento recente não vai fazer perder a sua obra que já faz parte do nosso património cultural.

Å®t Øf £övë disse...

Desculpa a minha ignorância, mas não conheço a aldeia do Sobreiro. Parece-me pela tua maravilhosa descrição ser um local super interessante, e a merecer uma visita pausada. Irei com toda a certeza conhecer esta aldeia. Obrigado pela dica, e pela partilha.
Bjs.

Miguel disse...

Bom Feriado da Revolução dos Cravos ...!
Bjks da M&M & Cª!