Muito se tem falado sobre o programa das Novas Oportunidades; é impossível haver um consenso, pois da parte de quem fez os estudos na escola normal, cumprindo ano a ano escolar revolta-se com estas “facilidades” que dão aos candidatos às NO.
Mas, não se põem do lado daqueles que, por uma razão ou outra, não puderam terminar o ensino secundário e acreditem que há razões fortes e graves para que isso não tivesse acontecido.
Lá diz o ditado: dentro do convento só sabe quem está lá dentro!!!
Faço parte das pessoas que ficou só com o 9º ano, com imensa vontade de terminar o 12º ano e tenho comigo o comprovativo da minha matrícula/inscrição no ano lectivo 2002-2003, aqui na Escola Secundária da Moita.
Motivos que para aqui não interessam, levaram a que não pudesse concretizar esse desejo e mais uma vez foi impossível fazer o 10º, 11º e 12º anos da forma normal, nas unidades capitalizáveis como se usava na época.
Assim que me apercebi que poderia fazê-lo através das NO, inscrevi-me e a minha história foi muito triste, sozinha fiz tudo desde o momento da inscrição até à conclusão do RVCC.
Nunca tive alguém ao meu lado, a não ser uma ou outra amiga que, à distância, iam dando força e ânimo, sempre dizendo que eu era capaz de o fazer, mas fi-lo debaixo de uma grave depressão major.
Apenas e só porque a minha chefe directa no meu local de trabalho não queria que eu fizesse o RVCC (nunca entendi porque razão ela não partilhava daquele direito que eu tinha, ela bem tentou proibir-me usando todos os argumentos possíveis…só que acima dela existia o Director da Instituição, que sabendo que era um direito que me assistia “autorizou” que eu continuasse o processo, fi-lo contra a vontade da m/chefe e arranjei uma inimiga para o resto da vida…)
só quem já passou por um dilema destes pode imaginar o que passei no local de trabalho.
Lógicamente que, quando terminei o processo do RVCC fiquei super feliz, foi uma vitória completamente solitária mas com bom aproveitamento, no entanto, sempre que compartilho com alguém, seja aqui na blogosfera como já o fiz, ou na vida real, vejo e sinto uma acusação nos olhares e nas palavras de todos que me rodeiam, porque acham uma injustiça conseguir um “Certificado” de Certificação de Competências e não um “Diploma” do 12º ano, como muitos pensam!!!
Como já fiz ver, há situações e situações e a minha foi triste e dolorosa até o conseguir, por isso, custa-me receber tantas críticas sobre o processo em causa. Acreditem que, nem durante nem depois disso “não roubei o lugar a ninguém” no meu local de trabalho.
Também “nada ganhei” com isso!!! Nada, garanto-vos.
Tenho tido azar nos locais de trabalho por onde passei nos últimos 5 anos de actividade laboral, tanto da parte da dita chefe a que me referi, bem como posteriormente.
Na minha última avaliação de desempenho fui bastante “prejudicada” em relação a outra colega que apenas tem a 4ª classe, não sabe enviar um fax, não sabe puxar uma chamada telefónica, enfim…não sabe fazer coisas que são inadmissíveis em pleno século XXI, no entanto, de nada valeu o meu acto de completar o ensino secundário através do RVCC e essa colega teve Muito Bom na sua avaliação e eu tive um Bom…
Sei qual o meu valor como funcionária e sei que fui tremendamente injustiçada, por isso, digo-vos: não me critiquem por ter tido o trabalho de fazer o RVCC, durante 15 meses.
Também vos digo que não é fácil, embora todos pensem que aquilo se faz com uma perna às costas, não é nada disso.
Deu-me imenso trabalho e os formadores foram muito exigentes comigo, pois tenho uma rica vivência tanto laboral como pessoal e queriam que eu ali escrevesse tudo e mais alguma coisa, terminei o meu portfólio com mais de 100 páginas e para eles nunca chegava, exigiam sempre mais e mais.
No próximo post apresentarei relatos de crónicas que tem aparecido na imprensa sobre este tema.
Uma dessas crónicas inicia deste modo:
Um em cada três adultos afirma que a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) teve "pelo menos" um factor positivo na sua vida profissional. Destes, a maioria dos que mudou de emprego diz que o fez para melhor. Há ainda cerca de dez por cento que sentiu melhorias nos salários. Além da vida profissional, também na pessoal, verifica-se um acréscimo da auto-estima, revela a avaliação externa coordenada pelo ex-ministro da Educação Roberto Carneiro, da Universidade Católica Portuguesa.
No meu caso, não houve nenhum factor positivo na vida profissional, apenas na pessoal, talvez um acréscimo da auto-estima; no entanto, muito sinceramente não tem grande valor como eu pensei que fosse ter, talvez pela mágoa que me acompanhou todo o processo, como já expliquei e acreditem muitas vezes até me esqueço que já tenho o 12º ano, quando me perguntam quais as minhas habilitações respondo o 9º ano, pois foram dezenas de anos a dizer o mesmo, ainda não me habituei a dizer: 12º ano.
A imagem aqui inserida reflecte o que tem sido a minha vida, como este barco que corta a água, lutando contra ventos e marés, para seguir em frente, em direcção ao seu objectivo!!! Foto minha.