VÃO-ME BUSCAR ALECRIM
Título original: Go Get Some Rosemary
De: Ben Safdie, Joshua Safdie
Argumento: Joshua Safdie, Ben Safdie, Ronald Bronstein
Com: Ronald Bronstein, Sean Williams, Eléonore Hendricks
Género: Comédia Dramática
Classificacao: M/12 EUA/FRA, 2009, Cores, 96 min
Lenny (Ronald Bronstein) é um nova-iorquino divorciado e pai de dois rapazes. Durante apenas duas semanas por ano, tem a guarda dos filhos Frey (Frey Ranaldo), de sete anos, e Sage (Sage Ranaldo), de nove. Apesar de todo o amor que lhes dedica, Lenny tem uma vida desregrada, não conseguindo assumir a responsabilidade que duas crianças exigem. Dessa forma, e apesar do seu esforço genuíno, essas semanas acabam por ser uma aventura no limiar da irresponsabilidade, entre o riso e a inquietação.
Escrito e realizado pelos irmãos Josh e Benny Safdie, é inspirado na infância dos realizadores na cidade de Nova Iorque sendo uma homenagem ao seu próprio pai. Estreou em 2009 na quinzena dos realizadores de Cannes 2009 e foi o filme vencedor do Festival IndieLisboa2010.
Vasco Câmara - 5 estrelas;
Luis Miguel Oliveira - 4 estrelas.
É refrescante a forma de filmar a infância assim: o caos total.
Neste panorama, é refrescante encontrar um filme que, como "Vão-me Buscar Alecrim", seja capaz de filmar a história (disfuncional) de um pai divorciado (um "pai solteiro") e dos seus dois filhos desta maneira: caos total, a linha da irresponsabilidade cruzada mais do que uma vez, e no entanto...
E no entanto, a relação entre aqueles três exala uma autenticidade sentimental comovente, uma espécie de felicidade acossada menos pelos sucessivos desastres do que pela maneira condenatória como o mundo (os "outros") olha para os desastres.
Quer dizer, "Vão-me Buscar Alecrim" é a história de um "pai-herói", mas cuja heroicidade só é (só será, um dia) reconhecida pelos filhos. Toda a gente, todos os adultos, dos professores da escola à mãe das crianças, vê naquele homem apenas um irresponsável eventualmente perigoso; mas aqueles dois miúdos, Sage e Frey, quando crescerem, farão muito provavelmente um filme sobre o pai (que até é projeccionista e lhes mostra filmes, em película e tudo).
Assim o fizeram, pelo menos, Joshua e Benny Safdie, dois nova-iorquinos de vinte e poucos anos: "Vão-me Buscar Alecrim" é a autobiográfica homenagem ao pai de ambos. Podemos acreditar facilmente nesta Manhattan de "hot-dogs" e jardins, apartamentos atravancados, tascas e lojinhas - podemos acreditar que é nesta Manhattan que as pessoas, de facto vivem.
(texto do publico-online)
Longe de Manhattan: o plano final, supra-sumo da melancolia desafectada com que os Safdie filmam esta história, sugere que talvez do outro lado do rio, não muito longe mas suficientemente longe dali, o pai e os dois filhos encontrem o que lhes falta, o tempo e o espaço.
Os irmãos Safdie, realizadores de Vão-me buscar Alecrim, descobrem um novo ângulo, que não é mais do que uma visão pessoalíssima da Nova Iorque que os viu crescer.
Vão-me buscar Alecrim ganhou o prémio principal da última edição do Indie Lisboa. É uma homenagem ao pai e à própria cidade, com fortes traços autobiográficos. Esclareça-se: aqueles dois irmãos reguilas, interpretados por Serge e Frey Ranaldo (filhos de Lee Ranaldo dos Sonic Youth), não são mais do que os próprios realizadores. E muito do que o filme mostra aconteceu-lhes mesmo.
De certa forma, é uma história de amor paternal, de um pai que se confunde com um irmão mais velho, numa paixão assolapada, imatura mas consistente pelos filhos. Tal faz com que o seu amor nunca seja posto em causa, mesmo quando, de forma imprudente ou negligente, põe a vida das crianças em risco, através do uso imponderado de soporíferos. Perdoamos imediatamente aquele pai, assim como os próprios filhos o fazem ao realizarem este carinhoso filme. Até porque, muito provavelmente, também o pai, que era projeccionista, influenciou as suas vocações.
Logo no início do filme, a câmara, aparentemente distraída, encontra, como por acaso, um homem, que acaba por ser o protagonista. Depois de comprar um cachorro quente, salta uma vedação do Central Park e tropeça, deixando cair a salsicha e tudo o resto. Ri-se sozinho, como se fosse um tolo. E assim fica retratada a personagem brilhantemente interpretada por Ronald Bronstein, um grande actor que nem sequer actor é (os irmãos Safdie levaram o espírito independente ao extremo de convidar o seu editor de imagem para actor principal). Percebemos que Lenny está apenas feliz porque chegou a altura do ano em que fica com os filhos.
Aquela vedação do Central Park, em que ele tropeça, é o que o separa da zona fina de Upper Manhatan, onde os filhos vivem tranquilamente com a mãe. Os miúdos são uns traquinas, capazes das maiores tropelias, como carregarem uma bisnaga de urina e disparem contra o babysitter. Mas o pai não lhes fica atrás, com o seu carácter hiperactivo, acriançado, irresponsável. Mostra uma envolvência física e emocional com os filhos, como um leão com as suas crias.
Assim é transmitida uma sensação de felicidade louca e espontânea, como de uma paixão, apesar de os resgatar de uma casa luxuosa, para um apartamento minúsculo da zona baixa da cidade.
A personagem, tal como nós, não se conforma com o fim daqueles dias, num tempo em que a custódia era mal dividida entre divorciados. E, mais uma vez, aceitamos o que o que aparentemente é condenável: o pai, que serve para quase tudo menos para ser pai, rapta os filhos, e parte, de frigorífico às costas, com as crianças debaixo dos braços, no esplendoroso teleférico de Roosevelt Island. (cena hilariante...)
E até acreditamos que a viagem não acaba logo ali, do outro lado do rio, mas apenas numa nuvem dos céus de Manhattan.
(texto e imagens da net)
Os irmãos Safdie, realizadores de Vão-me buscar Alecrim, descobrem um novo ângulo, que não é mais do que uma visão pessoalíssima da Nova Iorque que os viu crescer.
Vão-me buscar Alecrim ganhou o prémio principal da última edição do Indie Lisboa. É uma homenagem ao pai e à própria cidade, com fortes traços autobiográficos. Esclareça-se: aqueles dois irmãos reguilas, interpretados por Serge e Frey Ranaldo (filhos de Lee Ranaldo dos Sonic Youth), não são mais do que os próprios realizadores. E muito do que o filme mostra aconteceu-lhes mesmo.
De certa forma, é uma história de amor paternal, de um pai que se confunde com um irmão mais velho, numa paixão assolapada, imatura mas consistente pelos filhos. Tal faz com que o seu amor nunca seja posto em causa, mesmo quando, de forma imprudente ou negligente, põe a vida das crianças em risco, através do uso imponderado de soporíferos. Perdoamos imediatamente aquele pai, assim como os próprios filhos o fazem ao realizarem este carinhoso filme. Até porque, muito provavelmente, também o pai, que era projeccionista, influenciou as suas vocações.
Logo no início do filme, a câmara, aparentemente distraída, encontra, como por acaso, um homem, que acaba por ser o protagonista. Depois de comprar um cachorro quente, salta uma vedação do Central Park e tropeça, deixando cair a salsicha e tudo o resto. Ri-se sozinho, como se fosse um tolo. E assim fica retratada a personagem brilhantemente interpretada por Ronald Bronstein, um grande actor que nem sequer actor é (os irmãos Safdie levaram o espírito independente ao extremo de convidar o seu editor de imagem para actor principal). Percebemos que Lenny está apenas feliz porque chegou a altura do ano em que fica com os filhos.
Aquela vedação do Central Park, em que ele tropeça, é o que o separa da zona fina de Upper Manhatan, onde os filhos vivem tranquilamente com a mãe. Os miúdos são uns traquinas, capazes das maiores tropelias, como carregarem uma bisnaga de urina e disparem contra o babysitter. Mas o pai não lhes fica atrás, com o seu carácter hiperactivo, acriançado, irresponsável. Mostra uma envolvência física e emocional com os filhos, como um leão com as suas crias.
Assim é transmitida uma sensação de felicidade louca e espontânea, como de uma paixão, apesar de os resgatar de uma casa luxuosa, para um apartamento minúsculo da zona baixa da cidade.
A personagem, tal como nós, não se conforma com o fim daqueles dias, num tempo em que a custódia era mal dividida entre divorciados. E, mais uma vez, aceitamos o que o que aparentemente é condenável: o pai, que serve para quase tudo menos para ser pai, rapta os filhos, e parte, de frigorífico às costas, com as crianças debaixo dos braços, no esplendoroso teleférico de Roosevelt Island. (cena hilariante...)
E até acreditamos que a viagem não acaba logo ali, do outro lado do rio, mas apenas numa nuvem dos céus de Manhattan.
(texto e imagens da net)
2 comentários:
Tenho pouca disponibilidade para cinema, mas tenho muita pena.
Abraço do Zé
Parece interessante!
Gostaria de o ver...
Abraço
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