12/12/09

JOSÉ RÉGIO

No seguimento de uma iniciativa que tive há umas semanas atrás - uma nova série de posts, onde tento conjugar uma POESIA com fotos minhas. Tenho centenas de fotos captadas só este ano de 2009, como não sei onde as introduzir e como gosto muito de poesia, neste caso refiro-me a uns versos de um nosso poeta - José Régio - comemora-se este mês 40º aniversário da sua morte.
No meu recente passeio por Vila do Conde, no passado mês de Outubro, descobri estes versos de José Régio gravados na pedra, junto ao mar.

José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, é um escritor português, natural de Vila do Conde, e o seu nascimento data de 1901. Em Vila do Conde, terra onde viveu até acabar o quinto ano do liceu, publicou os seus primeiros poemas nos jornais, O Democrático e República. Aos dezoito anos, José Régio, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa. Esta tese na época não teve muito sucesso, uma vez que valorizava poetas quase desconhecidos na altura, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro; mas, em 1941, foi publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa.


Em Coimbra, faz ainda a sua estreia como poeta, com os hoje célebres Poemas de Deus e do Diabo (1925), logo saudados por alguns grandes nomes como um indiscutível clássico da poesia portuguesa.
Inteligente, eloquente e incómodo, Régio ficará, para sempre, como uma presença incontornável mas que se gosta de silenciar...
Em 1929 José Régio vai para Portalegre, primeiro como professor agregado, depois, efectivo, aí permanecendo, como professor de francês e de português, no Liceu Mouzinho da Silveira, até 1962, ano em que se reforma, passando a viver parte do ano em Portalegre e a outra parte em Vila do Conde, sua terra natal.
Em Vila do Conde viria a falecer em 22 de Dezembro de 1969.
José Régio é considerado um dos grandes vultos da moderna literatura portuguesa, e recebeu em 1966, o Prémio Diário de Notícias e, em 1970, o Prémio Nacional da Poesia. Hoje em dia, as suas casas em Vila do Conde e em Portalegre são casas-museu.
Fotos minhas:
na 1ª imagem - as palavras gravadas na pedra
na 2ª imagem - aspecto interior da Capela da Sra. da Guia
na 3ª imagem - aspecto exterior da Capela, junto ao mar. (Clicar nas imagens p/ver tamanho maior)

8 comentários:

Zé Povinho disse...

Bonitas fotos as que enquadrama pequena biografia de José Régio um marco das letras em Portugal.
Bom domingo
Abraço do Zé

gaivota disse...

lindas fotos e bom texto relatando a vida de um dos grandes poetas da nossa terra!
beijinhos

Violeta disse...

Gosto muito da poesia de José Régio ando com um poema dele para publicar.
Deixo-o aqui:
Poema do Silêncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio, in 'As Encruzilhadas de Deus'

Maré Viva disse...

Não há nada que tu não conheças ou que a tua câmara fotográfica não capte... depois, é isto que se vê, posts excelentes em perfeita conjugação de textos e imagens.

Realmente tenho andaddo desaparecida, trabalho, trabalho, trabalho...e agora uma constipação, será da letra A?

Beijinhos e votos de Festas Felizes!

Vicktor Reis disse...

Querida Tulipa

Excelente trabalho de conjugação de imagens com um optimo texto de prosa documental.

Grato pela partilha, parabéns pela pesquisa.

Beijinhos.

Ana disse...

Homenagem a um grande Poeta. Belíssima ideia associares as tuas fotos que são excelentes.
Um beijo, amiga.

Mário Margaride disse...

Excelente fotos minha amiga. Parabéns!

Um resto de semana com tudo de bom.

Beijinhos

Mário

José Leite disse...

Vila do Conde e José Régio são duas faces da mesma moeda: POESIA!

A terra inspirou o poeta e deu no que deu e é o orgulho de todos nós vila-condenses!